Diário de Campanha

Nos olhos da mulher impossível

Gosto muito do compositor e cantor francês Bernard Lavilliers. Nada conhecido no Brasil, o que é um desperdício e uma ingratidão. Ele passou um tempo aqui, conheceu Vinicius de Moraes, namorou uma cearense, foi caminhoneiro e jogou futebol com Chico Buarque. Lavilliers passou tempo suficiente aqui para amar o Brasil para sempre. Todo disco dele, mesmo os dedicados a outros países, inspirados em outras culturas, tem uma música com sotaque brasileiro, um samba, uma bossa nova francesa…

O título desta crônica tirei da música Saigon que está em seu disco “Solo”, de 1991. CD com nuances do Vietnã. Saigon é atual Ho Chi Minh City. Uma pena, Saigon é um nome muito mais bonito. Quem mandou os Estados Unidos perderem a guerra do Vietnã e os franceses a da Indochina…

Não sei explicar os motivos, mas tinha vontade de conhecer quatro países: Cuba, Vietnã, Marrocos e Irlanda. Eles têm algo de aventura. O Bernard Lavilliers também. Admiramos os grandes viajantes que iam a estes lugares, muito antes do avião existir. São países exóticos, sensuais, misteriosos, românticos, cinematográficos e pelo menos o Vietnã, longínquo.

Dos quatro países, só consegui conhecer, até agora Havana, em Cuba. Conhecer também é muito. Passei ótimos cinco dias lá, em 2012, indo e voltando, entre Cidade do Panamá e Nova York. Mas isso é muito outra história que não cabe aqui.

Sempre procuro e amo filmes rodados nestes países. Esta semana, revi “L’Amant” (O Amante), de 1992. É dirigido pelo francês Jean-Jacques Annaud, livremente baseado – e por isso muito criticado – no livro da não menos francesa, Marguerite Duras.

Nada por acaso. O Vietnã já foi Indochina que já foi colônia francesa. O filme revisita esta época, no ano de 1929.

A atriz é uma delícia, Jane March. É a história de sua personagem, uma menina de 15 anos que tem um caso para lá de erótico, sexual e sensual com um chinês rico de 36 anos. Daí, dá pra imaginar a lama das monções e emoções…

Adoro Cuba, Vietnã, Marrocos e Irlanda, mas não sei se gostaria de morar em um deles. Vai ver, esta minha paixão é por isso mesmo. São países para visitar, viver emoções inolvidáveis e partir. Na hora H, eu moraria mesmo, e de novo, em Paris. Por que?

Cheguei ao assunto da crônica, ufa!

Estas crônicas são para Belo Horizonte em tempos de cólera e eleições para vereadores e prefeito. Quero falar de cidades como Belo Horizonte ou Saigon, Casablanca, Dublin, Havana…

Numa de minhas crônicas favoritas, “As Boas Coisas da Vida”, Rubem Braga cita 10, duas delas são: ” Viajar, partir… Quando se vive na Europa, voltar para Paris, quando se vive no Brasil, voltar para o Rio”.

É isso. Por que Rio? Por que Paris? Braga era capixaba, morou em Belo Horizonte e em Paris. Mas, como diplomata sem diploma de diplomata, morou em Rabat… Marrocos. Vinicius de Moraes e João Cabral de Melo Neto também foram diplomatas, como Pablo Neruda… Será por isso que, até 1985, eu queria ser diplomata?

Por que Bernard Lavilliers adora o Brasil, mas continua morando na França?

Por que Rubem Braga viveu e morreu no Rio de Janeiro?

Por que morro de tesão em várias cidades, mas, se pudesse, escolheria Paris para sempre?

Por que eu e Rubem Braga não escolhemos Belo Horizonte?

Vou nem responder.

Não vou responder mas vou divagar. Porque os próximos vereadores prefeitos deveriam transformar Belo Horizonte em Rio e Paris. Impossível? OK, mas dá pra tentar? Dá pra fazer forçar? Nunca comi mil mulheres, mas me esforço…

O Rio é uma cidade feita pela natureza (Deus), Paris, pelo homem. O mesmo homem que tenta destruir o Rio e não consegue. Mas o mesmo homem que preservou Paris, maravilhosa e luz como ela é e sempre foi.

Paris não tem mar, praias e montanhas como tem o Rio. Paris só tem um rio, o Sena. Mas no capítulo humano, Paris dá de mil a zero no Rio, prova de que o homem, inteligente, quando quer, faz. “A força da grana que ergue e destrói coisas belas”, como canta o Caetano Veloso.

Por que o ribeirão Arrudas não pode deixar de ser esgoto, como a Lagoa da Pampulha? Limparam o rio Sena, como deveriam fazer com o Tietê e Pinheiros em São Paulo; as praias e a lagoa Rodrigo de Freitas no Rio…

Por que BH não pode preservar o pouco de história que tem e criar outras?

Por que BH não pode ter museus e monumentos em suas ruas, praças, avenidas, como o Rio tem e Paris humilha?

Por que o centro de BH é horroroso e os de Rio e Paris são lindos e valorizados?

Por que todo o resto?

Por que nossos políticos têm que ser tão burros e ignorantes, egoístas, pequenos?

ps: Para não dizerem que não falei do Gabriel, nosso vereador, a música linda do filme “O Amante” é de Gabriel Yared que é francês do Líbano, nascido em 7 de outubro, como Bernard Lavilliers. Eu sou do dia 9 e o Vinicius de 19. 9 de outubro, dia da morte de João Cabral de Melo Neto e de Jacques Brël que era belga, mas amava Paris.

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