Diário de Campanha

De Buriganga a Uummannaq

Ai, ai, ai, ai. Tá chegando a hora.

De fraldas, cabeça de juiz e urna, a gente nunca sabe o que vai sair.

E aquele cara que teve só um voto? O dele. E aquele que teve nem o voto dele? Tem coisa mais ridícula? O Pedro Nava dizia que não tinha coisa mais patética e ridícula que suicida fracassado. Sei não… Candidato que não teve um só voto… Ou teve 98, precisando de seis mil….

E olha que Pedro Nava se matou, não errou o tiro, sentado numa calçada da Glória.

Um voto faz diferença. Como um dia. Porque “basta um dia, não mais que um dia, um meio dia. Me dá só um dia e eu faço desatar a minha fantasia. Só um belo dia, pois se jura, se esconjura, se ama e se tortura, se tritura, se atura e se cura a dor, na orgia da luz do dia. É só o que eu pedia, um dia pra aplacar minha agonia, toda a sangria, todo o veneno de um pequeno dia”.

Toda a sangria, orgia, tortura, amor e dor em um voto.

De voto em voto, a urna enche o papo.

Vocês pedem voto para seus candidatos?

Eu peço. Quer dizer, depende.

Se a pessoa já tem candidato, até mudo de assunto.

Adoro é um indeciso. Sou alucinado por indecisas. Afinal, uma mulher indecisa ou perdida, já é meio caminho andado.

Nas pesquisas, vou ao delírio quando chega a hora dos indecisos e principalmente dos que não sabem ou não responderam. Adoro!

Para os indecisos, ataco com Vinicius de Moraes: “a hora do sim é o descuido do não”.

Agora… Os que não sabem…

Simples, como um Lula que não sabia, nem sabe de nada. Fim de papo. Acontece é que, tirando o Lula, tem gente que não sabe mesmo!

Precisa ser muito macho ou muito mulher pra responder: “não sei” ou “não sei, não quero saber e tenho pena de quem sabe”.

Só sei que nada sei.

Saber ou não saber?

– Você vai à suruba?

– Não sei.

“Não sei” ou “É foda!”; fim de papo.

Melhor do que:

– Você vai à suruba?

– Vou, já somos quantos?

– Comigo, você e sua mulher já somos três…

Toma distraído! Cabeção! Sabichão! Sabe tudo!

“Não sei” é genial, como quem não sabe nem quando está com fome!

Dizer “não” ou “não sei”, sinceramente, ajudaria muito o mundo. “Não” ou “não sei” evitaria guerras. O pior é que a hipocrisia também evita guerras…

“Não” ou “não sei” pode ser linda sinceridade ou maravilhosa imbecilidade.

Como não sabe em quem vai votar? Faltam seis dias e o gaiato ainda não sabe.

Um voto!

E quem não responde? Acho que aqueles que não respondem devem fazer cara de quem não sabe e não responde. Ou não quer responder, ou está escondendo o jogo. É meio infantil: “não quero, não quero e não quero”.

Não respondo porque você tem nada a ver com isso. O voto é meu e dou a quem quiser. Não tenho que responder. Não te interessa. É a própria indiferença, o maior insulto de todos.

Para o indeciso ainda resta esperança. Para quem não sabe ou não respondeu, resta justificar o voto depois e pagar umas merrecas. Por isso, ridículo mesmo é voto obrigatório. Tudo que é obrigatório é ridículo como são as cartas de amor. Imposto… algo que é imposto, não pode acabar bem. Já dizia uma frase que adoro e rego todo dia, “pedir não tem graça, charme é ganhar sem pedir”.

O eleitor deveria votar em quem não pede. Votar por prazer, sem esquecer que, “com prazer é mais caro…”.

Tô vendo aqui, agora, 23h57 do dia 26 de setembro, a reprise, do debate entre Donald Trump e Hillary Clinton. Ambos lutando voto a voto…

Que voto levará um dos dois ao “Game of Thrones”?

Gabriel me disse hoje que a eleição para vereadores em BH é a mais difícil do Brasil. A que mais tem candidatos por vaga. Quem merece o meu, os nossos votos? Aquele que procura um meio de vida ou aquele que quer fazer política como os gregos ensinaram e todo mundo esqueceu?

Eu gostaria muito de ser presidente do Brasil. O que me cansa é fazer campanha.

Detalhe: campanha não tem fim, começa no final da eleição.

Então, esta crônica é dedicada aos indecisos, aqueles que não sabem em quem vão votar, aqueles que não responderam porque não sabem ou não sabem porque estão indecisos por não saberem.

Ainda não sei em quem vou votar. Estou indeciso e se me perguntarem, não vou responder.

ps: No mais, de Buriganga a Uummannaq ou vice versa, é só um pulo. Mas como doi!

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